O agora Tenente Coronel Luiz Rubens, atual comandante do 36º Batalhão de Polícia Militar do Interior, com sede na cidade de Limeira, concedeu extensa entrevista ao Jornal de Limeira, abordando o tema segurança pública.
Confira a matéria:
Polícia Militar se prepara para a Copa do Mundo
Um ano atrás, o major Luiz Rubens Pinto de Carvalho Júnior, 44 anos, chegou para trabalhar em Limeira. E há menos de um mês, ele responde interinamente pelo comando do 36º Batalhão da Polícia Militar de Limeira, que abrange ainda as cidades de Araras, Conchal, Cordeirópolis, Iracemápolis, Leme, Pirassununga e Santa Cruz da Conceição. Passou de subcomandante para comandante após a promoção de seu antecessor, Humberto Gouvêa Figueiredo.
Em entrevista ao Jornal de Limeira, o comandante interino Luiz Rubens falou sobre os vários aspectos que envolvem o trabalho da polícia. E revelou que a Polícia Militar de Limeira estará atenta durante o período da Copa do Mundo. Existe uma programação para que todo efetivo esteja pronto para atuar nas ruas. Os afastamentos, licenças e férias estarão suspensos na Copa. Inclusive houve recentemente um treinamento com toda a tropa. Confira outros trechos da entrevista:
Jornal de Limeira - Os casos de violência nas escolas aumentaram nas últimas semanas. Como a Polícia Militar tem tratado a questão?
Luiz Rubens Pinto de Carvalho Júnior - A questão da violência nas escolas extrapola a missão da Polícia Militar. Ela vai muito além disso. No que diz respeito à polícia temos um programa, que é a ronda escolar. Sempre que requisitado pelos diretores de escola, e também em horários específicos, nós acompanhamos os alunos na saída das escolas do município. Assim, atuamos preventivamente. Quando solicitado, em algum caso pontual, a guarnição vai até o local e efetua os procedimentos operacionais que o caso requer.
JL - A ronda escolar tem acontecido com frequência?
Comandante Luiz Rubens - Ela é feita mediante um planejamento. Inclusive realizamos reuniões com os diretores das escolas aqui da região, e eles apresentam algumas demandas e procuramos direcionar o policiamento, nos horários e nos locais, de acordo com as necessidades principais. Porém, independente de ter algum caso mais agudo existe a prevenção primária que nós fazemos com as viaturas.
JL - Qual o tipo de crime que o senhor considera mais problemático na cidade?
Comandante Luiz Rubens - Já foi. E nós fomos cobrados e com razão. Não cabe apenas à Polícia Militar, mas a todas as polícias de uma forma em geral. Tínhamos um problema crônico, na verdade, é histórico, que é com relação a roubo e furto de veículos. Um problema que a gente vem enfrentando há bastante tempo. E recentemente, após algumas ações que nós estamos tomando, principalmente em conjunto com a Polícia Civil, as medidas resultaram em redução sistemática nos últimos três meses. Mês a mês acompanhamos uma queda nos indicadores.
JL - Quais são essas ações?
Comandante Luiz Rubens - Uma ação muito importante foi implantada pelo delegado seccional (Miguel Escrivão). Ele está avaliando caso a caso e todos os boletins de ocorrência, principalmente para coibir o golpe do seguro. E só esta notícia resultou num impacto bastante positivo. Agora, no que diz respeito ao policiamento, nós fizemos um levantamento minucioso. Mapeamos do local do roubo até o lugar em que o carro é encontrado. Aliás, uma taxa de recuperação muito alta. E através de reuniões de análise crítica, que nós fazemos semanalmente no batalhão com os comandantes de companhia, direcionamos o policiamento para essas áreas de forma preventiva. Fora isso, nós colocamos em dias específicos o efetivo administrativo em operação.
JL - Pode se dizer que boa parte dos casos é golpe do seguro?
Comandante Luiz Rubens - Não há como afirmar que é golpe. A própria notícia já previne. Se a pessoa sabe que será ouvida, ela não faz. Há apenas um indicador que possa haver golpes. Mas realmente o que está resultando nessa redução dos indicadores é a investigação por parte da Polícia Civil. Ocorreram prisões de meliantes ligados ao roubo de veículos e algumas quadrilhas estão sendo investigadas. E da nossa parte é a intensificação do policiamento com base na inteligência policial. Nós estamos utilizando as ferramentas que são colocadas à nossa disposição e direcionando para os locais mais críticos. Então, a somatória disso é que resultou na redução. O crime é dinâmico. Ele acontece em determinadas regiões e horários, e na outra semana ele muda. Até por isso nossas reuniões são semanais. Tamanha é a dinâmica do crime.
JL - A cidade tem uma grande participação de menores nos crimes, principalmente nos casos de drogas. Como a Polícia Militar tem tratado essa situação?
Comandante Luiz Rubens - Avalio como muito grave. A reincidência é alta. Às vezes, as pessoas se queixam que a polícia prende e solta. Na verdade, não é que a polícia quer prender e quer soltar. E quer apreender o menor e depois liberá-lo. É a legislação que determina isso. Essa discussão tem que ser mais ampla e abranger os entes políticos, que representam a nossa sociedade. Se a sociedade está incomodada com isso, a principal alteração que nós temos que fazer é na legislação. E quem faz essa alteração não é a polícia. São os entes políticos, os representantes do povo. Eu acredito que nós não vamos ter uma solução em curto prazo, mas mesmo assim devemos conscientizar politicamente a população que ela deve cobrar de seu representante adequações na legislação. Porque senão a população não é beneficiada e a polícia vai trabalhar enxugando gelo. É que essa situação passa por outras raízes. Infelizmente, a família não dá a devida atenção aos seus filhos. Seus filhos estão, muitas vezes, entregues aos traficantes. A Polícia Militar atua no efeito e nós temos que ter as causas tratadas. É um problema mais social do que policial. A polícia sozinha não vai resolver esse problema. A população precisa se mobilizar para cobrar dos entes políticos mudanças na legislação.
JL - Para o senhor, os municípios também têm a obrigação de oferecer ações para tirar esses menores das ruas e afastá-los do crime?
Comandante Luiz Rubens - Nós temos a atividade de polícia chamada de prevenção primária, que são ações que em conjunto com o órgão público, surtem resultado. Podemos exemplificar: uma área sem asfalto. Agora, se a área for asfaltada, a viatura e o socorro chegam mais rápido. Se nós temos uma área sem iluminação, isso atrai a presença de pessoas envolvidas com o crime - principalmente com o tráfico de drogas. E quando nós melhoramos a iluminação, isso afasta o criminoso. São ações que em conjunto com os órgãos públicos melhoram a situação. Outra questão bastante favorável é a fiscalização dos bares. Se fiscalizados, há um efetivo controle deles. E os marginais procuram lugares, principalmente clandestinos, onde possam cometer e até planejar seus atos criminosos.
JL - Limeira tem um problema sério que são os "points". E muitas vezes, os jovens acabam partindo para o enfrentamento com a polícia. A realização dos bailes funks também tem começado a preocupar a polícia?
Comandante Luiz Rubens - É uma preocupação grande. Nós temos principalmente na região central uma aglomeração de jovens, e agimos preventivamente. Quando sabemos que há aglomerações em determinados locais, nós ocupamos antes mesmo deles (os jovens). Deslocamos o policiamento antes do horário que eles se reúnem, e isso previne esse tipo de aglomeração que causa transtorno à população. E quanto aos bailes funks, nós enfrentamos situações pontuais, sem grandes incidências. Temos cidades vizinhas que são mais problemáticas. Eu, particularmente, discordo de alguns pensamentos de que baile funk em locais públicos é manifestação cultural. Não entendo dessa forma, e não é por preconceito. A questão é factual. Nesses locais em que ocorrem os bailes funks nós temos menores consumindo bebida alcoólica; sexo, muitas vezes, ao ar livre; e uso de drogas. E a própria polícia é recebida com violência. Isso passa longe de uma manifestação cultural. Temos que olhar com menos romantismo pra isso, e entender que os fatos comprovam que acontecem delitos nos locais dos bailes. Há inclusive exploração infantil. Tudo isso só incentiva a criminalidade.
JL - Faltam poucos dias para a Copa do Mundo e protestos podem ocorrer. Em algumas cidades, as manifestações já começaram. Limeira terá uma preparação especial durante a Copa?
Comandante Luiz Rubens - Nós trabalhamos muito com a inteligência policial, e isso significa antecipar as situações que podemos encontrar. Temos um levantamento de pontos críticos e estamos acompanhando uma ferramenta muito importante, que é a rede social. E a partir disso, nós fazemos um planejamento. Estamos também com todo efetivo de serviço. Durante a Copa do Mundo todos os afastamentos, férias e licenças estarão suspensos, com exceção dos casos emergenciais. Vamos estar com 100%, ou quase a totalidade do efetivo, disponível para atuar. Nós sabemos da possibilidade de manifestações e estamos com o efetivo preparado, e inclusive fizemos recentemente um treinamento com toda tropa. Até mesmo com a parte administrativa, para atuar em situações onde haja a necessidade de intervenções para a preservação da ordem pública. Conscientizamos os policiais de que a preservação da ordem é importante, mas também temos que garantir o direito de manifestação desde que não afete outros direitos da população.
JL - O evento traz preocupação para a Polícia Militar?
Comandante Luiz Rubens - É uma preocupação, pois nós acompanhamos o que está acontecendo (últimos protestos pelo país). Nós não podemos tratar a Copa do Mundo como se fosse um evento local, regional. Há, sim, preocupação. No entanto, não existe pânico, medo. O que há é uma preocupação natural pela grandiosidade do evento.
JL - As ocorrências mostram muitos roubos a residências em diferentes bairros da cidade. Como prevenir esse tipo de crime?
Comandante Luiz Rubens - Nós estamos com algumas campanhas educativas. A Polícia Militar tem que direcionar seu trabalho para a prevenção, e a Polícia Civil para investigar e prender os autores desses delitos. No entanto, há uma colaboração paralela muito importante, que nós estamos utilizando, fazendo panfletagem e usando os meios de comunicação para alertar a população quanto a alguns cuidados básicos, quando chega e sai de casa. Olhar ao redor e observar se há pessoas estranhas. Normalmente, os roubos a residências acontecem quando a pessoa está saindo ou chegando do trabalho. O ladrão é oportunista. Se um vizinho dá a oportunidade e o outro não, ele vai naquele que facilita sua ação. Precisamos, além do trabalho da polícia que é nossa obrigação, alertar a população para alguns detalhes. Se desconfiar de alguma situação, é importante procurar o auxílio da polícia.
JL - Como a Polícia Militar tem trabalhado com o domínio dos traficantes em alguns bairros do município? É sabido que os policiais são impedidos de entrar em determinados lugares.
Comandante Luiz Rubens - O que acontece é uma certa resistência e grupos que se infiltram no meio da população. Nós temos pessoas do bem, honestas e trabalhadoras. Só que temos também pessoas que incentivam, intimidam e pressionam para que recepcionem a polícia como inimiga. Como se a polícia fosse responsável pelas mazelas. Pelo contrário. O que acontece é que essas pessoas, ligadas ao tráfico de drogas, arregimentam pessoas, principalmente menores, e depois "vendem" uma imagem para a população que nós somos os responsáveis. Não é isso. Só estamos lá para defender a população. Então, essa falsa imagem e a arregimentação de pessoas causam uma situação de que a Polícia Militar não é bem vista, não é bem recebida. O que cabe às polícias, no caso da Militar, é atuar na repressão ao tráfico. Já a Polícia Civil tem feito o trabalho dela, que é identificar e prender essas pessoas. Há uma resistência, mas ela não vem do cidadão trabalhador. Vem do grupo infiltrado no meio dele.
JL - De que forma é possível aproximar a polícia da comunidade? É com a implantação de um policiamento mais ostensivo?
Comandante Luiz Rubens - Contamos com uma área territorial bastante grande e algumas limitações. Não dá para tratar de uma região específica em detrimento de outras. Não temos como colocar uma viatura o tempo todo em um determinado local, mas a gente tem como identificar e intensificar por meio do trabalho de inteligência policial. Nós levantamos os indicadores e direcionamos o trabalho policial para o local necessitado. O trabalho de aproximação da polícia com a comunidade vai além da presença policial e da viatura. As polícias são parceiras da comunidade.
JL - O efetivo do município é suficiente?
Comandante Luiz Rubens - Tivemos esses dias uma reunião com os presidentes de Conseg (Conselho de Segurança) e tratamos dessa questão. Mostramos que temos, sim, uma defasagem, mas ela é menor em relação à média do Estado de São Paulo. Atualmente, são 80 policiais em formação no módulo específico e que já estão estagiando operacionalmente. Isso, no entanto, não quer dizer que eles ficarão na cidade depois de formados. Eles serão deslocados para outras cidades. Alguns, no entanto, podem ficar no município.
Fonte: Renata Caram
Link da matéria no jornal: http://www.jlmais.com/detalhes/12431/policia-militar-se-prepara-para-a-copa-do-mundo
Seção de Comunicação Social do CPI-9
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