quarta-feira, 5 de novembro de 2014

OLHAR DE POLICIAL

                                                                                                                (*) Cláudio Roberto Sorge

Alguém já disse certa vez que os olhos são as janelas da  alma. Esse ditado popular é muito conhecido , porém na correria do dia-dia acredito que passe despercebido de muita gente, ocorre que  curiosamente dias atrás constatei o olhar de um policial militar que inquietou-me e ao mesmo tempo remeteu-me a esse ditado.

Para explicar melhor como isso aconteceu ,  preciso ressaltar que no exercício do comando do batalhão da Polícia Militar sediado em Limeira/SP , tenho semanalmente as terças-feiras , o privilégio e a honra de presidir uma solenidade militar que serve para reforçar o treinamento recebido pelos policiais militares do Curso de Formação de Soldados que aqui se desenvolve e também à tropa pronta que aqui trabalha.

Dentre outros aspectos, essa solenidade também  tem o condão de homenagear policiais militares veteranos , ou seja aqueles que estão em gozo de sua aposentadoria, indo ao encontro da política institucional de valorização profissional, afinal como todos dizem nunca deixam de ser policiais militares. Nesse sentido  há um momento em que os veteranos são chamados à frente dos policiais perfilados, para materialização da homenagem e nesse exato momento, dias atrás, percebi o tal olhar  que causou-me o estranhamento.

Constatei que  o olhar aparentemente um pouco cansado do velho soldado encontrou-se com o olhar firme e inquieto do jovem soldado em formação acadêmica. O primeiro, já não tão atlético , os cabelos brancos já começavam a rarear e as rugas em torno dos olhos já mostravam-se bem marcadas. O segundo perfeitamente atlético em razão do treinamento diário, cabelos aparados ao corte militar e o rosto sem ruga alguma. Pude entender perfeitamente o que ocorria ... passado , presente e futuro encontravam-se como num passo de mágica,mesmo que isso seja aparentemente impossível de acontecer.

O olhar do jovem soldado parecia reverenciar a experiência do veterano . Por sua vez o olhar do veterano parecia maravilhado como que reverenciando a pujança da juventude dos neófitos envergando a farda nova , o reluzente cinturão com equipamentos que à época dele não existiam .

Em virtude dessa inquietação, ocorreu-me dirigir meu olhar à família que acompanhava  um daqueles veteranos e qual não foi minha surpresa ao vê-los com os olhos marejados ante a constatação da emoção quase indisfarçável  do veterano, o qual sutilmente tentava ocultar uma lágrima que escorria –lhe pelo rosto.

 Estávamos  contemplando almas simples , porém  grandiosas e nobres , que escrevem suas histórias com o suor do trabalho , compromissadas com a principal missão da corporação que é proteger as pessoas.

Veteranos , voltem sempre que quiserem, serão  muito bem vindos!

                                                                           (*) é Comandante Interino do 36º BPM/I

Seção de Comunicação Social do CPI-9



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